Quinta-feira, 28 de maio de 2009. Dia de Verdão na Libertadores. Dia de sofrer. Sofrer...
O meu dia mal começara. Chuveiro queimado, banho de canequinha e uma noite mal dormida precederam o meu acordar atrasado. Até o Palestra Itália haveria, além de uma jornada inteira estressante, mais um longo trajeto de trânsito (acordo muito cedo para evitar este monstro). Meu mau humor, mais meus nervos em frangalhos, resultariam num dia extremamente difícil... O ingresso em minhas mãos me acalentava. Era a minha superdose de cafeína. Quinta-feira, 28 de maio de 2009. Dia de Verdão na Libertadores. Dia de sofrer. Sofrer...
Cheguei às arquibancadas do Palestra Itália às oito e meia. Fiquei no Setor Vermelho, setor ocupado prioritariamente por torcedores comuns, ou melhor dizendo, torcedores não-uniformizados, ou dizendo melhor ainda, torcedores que não pertencem a nenhuma torcida organizada. Como eu. Adoro assistir à festa que as organizadas fazem nas arquibancadas, mas prefiro não estar no meio. É que meu jeito de torcer não é padronizado. Certamente, eu destoaria no meio do pessoal organizado e, fatalmente, estragaria a bela festa que só eles conseguem fazer. E fizeram. Cantaram do início ao fim da partida. As críticas luxemburguianas pós-jogo foram péssimas. Deu um tiro no pé. Fez um lance estúpido. Perdeu o direito ao roque – o apoio da torcida – e deixou o rei exposto, sem a força defensiva da torre ao lado. Como alguém alcunhado de estrategista comete um erro crasso desses? Um príncipe não governa sem o povo. Maquiavel no Luxa!
Quinta-feira, 28 de maio de 2009. Dia de Verdão na Libertadores. Dia de sofrer. Sofrer... Enquanto estava no Setor Vermelho deliciando-me com o batucar ressoado pelas organizadas, sentia o tempo passar lentamente até o início da partida. E sentia nas fuças a fina cortina de gotículas que – pareciam – dançavam suspensas no ar. Apesar da imagem refletir meio depressiva, era uma bela imagem, realçada como estava pela potência dos refletores do estádio. Senti-me bem. E o sofrimento da angústia pelo início do jogo foi se amenizando...
Fazia tempo que eu não sentia tanto prazer num estádio. A verdade, a verdade, é que eu não me lembro quando foi a última vez que senti tal êxtase. Curti o frio e a garoa da noite, curti passar os noventa minutos de pé (aliás, detesto assistir jogo no estádio sentado), curti a diversidade de gentes que me rodeavam ali. Ao gol de Diego Souza, todos comemoravam e se abraçavam. Todos estranhos. Estranhamente unidos.
Numa certa hora, um torcedor passou pela minha frente e empurrou o senhor que estava ao meu lado. Este torcedor gritou: "Você não está vendo que eu estou passando?" Eu vi foi o bafo etílico exalado com seu grito, não sei se o senhor empurrado viu também. Felizmente, a discussão não passou disso. E, inusitadamente, minutos depois, este mesmo torcedor voltou e pediu perdão ao senhor. "A gente trabalha o dia inteiro, fica cansado, e ainda tem a tensão pela espera do jogo... Me desculpe, eu estava de cabeça quente!" Eles se abraçaram. "Somos todos palmeirenses". Eu fiquei comovido. Meu dia também fora muito cansativo, eu também era pura tensão. Aquela cena de redenção me levou ao chão. Fazia tempo que eu não sentia prazer na humanidade. Voltei a sentir esperança, meu coração se encheu de felicidade e senti uma intensa alegria em estar vivo! Somos todos palmeirenses! E estávamos todos estranhamente ali sofrendo. Sofrer...
Não vou me aprofundar muito na seara técnica ou tática da partida, nem das infelizes escalações e substituições do Luxemburgo, nem dos lances perdidos ou nem tentados pelos jogadores palmeirenses. Umas vezes joga-se bem e não se ganha. Outras vezes joga-se mal e acha-se um lance, uma bola, mal chutada como aquele cruzamento do uruguaio, e a bola entra. Isso é Libertadores. Isso é futebol. Isso é a vida.
O que importa é que eu ainda tenho esperanças no Palmeiras. Eu ainda acredito que passaremos por essa. Eu sei que sofrer é suportar. É SUPERAR!